Pesquisa local

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Jesse Owens: A real história



















Jesse Owens: Exemplo de superação, cujo nome foi infelizmente explorado


 Jesse Owens... O negro que fez Hitler praticamente espumar de ódio, por conseguir um feito imperdoável: Destruir na prática por A + B as bases da política pan-germânica da supremacia ariana.
 Conta-se que o episódio teria feito com que não somente Hitler, mas o povo alemão em peso, ficasse MEGAPUTAQUEPARIVELMENTE louco de raiva, por ver aquele homem negro, derrotá-los heroicamente em plenos jogos olímpicos, sediados no coração da Alemanha. Hoje sempre que se fala em olimpíadas, os veículos de comunicação, ainda fazem circular essa historieta - e isso de certa forma, acaba colocando à baixo a credibilidade jornalística. Falo "jornalística" porque desde 1936 até a atualidade, os jornais insistem em bater na mesma tecla, distorcendo os fatos. Em todo caso, existem muitos exemplos fora este, de como um meio de comunicação pode facilmente manipular dados conforme a sua conveniência, afim de gerar polêmicas e até mesmo verdadeiras lendas.

 Tenho certeza de que alguns leitores já viram (ou pelo menos já ouviram falar) do vídeo em que mostra um apresentador de Talk-Show chamado Erik Hartman, rindo da cara de um dos seus entrevistados, que possui voz fina devido a uma operação mal sucedida. O programa seria da Bélgica, e se chamaria Boemerang.
 Ocorre que o vídeo em questão era falso – tratava-se apenas de um dos quadros do programa de humor belga chamado In The Gloria. O quadro na verdade era uma sátira aos programas de Talk-Show estadunidenses, que faziam e ainda fazem sucesso, se aproveitando dos problemas das pessoas. Vários veículos de mídia exibiram o vídeo aqui no Brasil, em especial o Programa do Ratinho, que além de dar uma segunda (e mentirosa) explicação, disse que o vídeo era um programa da TV alemã e era REAL.


 No caso da produção do Ratinho, faltou competência e quem sabe até honestidade, na exibição do conteúdo. Porque se eles deturparam deliberadamente até as informações acerca do vídeo, (informaram até o suposto valor do salário que o Erik Hartman ganhava!...) então isto me leva a crer, que já sabiam que o vídeo era uma brincadeira, e o fizeram de propósito, colocando-o como verídico com o intuito de obter audiência.
 No caso do corredor norte-americano, fizeram algo parecido – só que com muito mais impacto (principalmente político e educacional) e obviamente com um resultado muito mais amplo, do que o simples ganho de audiência momentâneo.

 A história verdadeira foi a seguinte: Jesse Owens o grande corredor norte-americano, conquistou 4 das 24 medalhas de ouro para os Estados Unidos. Nunca e em lugar nenhum, este homem foi tão glorificado e homenageado pela população da Alemanha nazista. Não, você não leu errado. Pela Alemanha Nazista sim.
 Mesmo tendo pouquíssimas informações sobre o evento olímpico "fracassado" de 1936 em Berlim, sabe-se perfeitamente que a Alemanha foi campeã absoluta dos jogos com 33 medalhas de ouro, 26 de prata e 30 de bronze. A wikipédia confirma todos os dados técnicos, dando também ênfase à quantidade de medalhas de ouro. Inclusive ela classifica a história da saída furiosa de Hitler, como lenda.
Link aqui
  
 Outro fato que a mídia em geral esconde, é que havia participantes judeus (sim judeus, você não leu errado) na delegação alemã como o competidor Rudi Ball (pela modalidade Hóquei) e Helena Mayer (pela modalidade esgrima). Wolfgang Fürstner, organizador da vila olímpica também era judeu. Algo meio contraditório, em vista da ideologia nazista, que prega ódio e perseguição implacável a essas pessoas.  
 Owens quebrou recordes mundiais na prova de 100 metros e no salto em distância, ao vencer o competidor alemão Lutz Long, e também nos 200 metros rasos, onde bateu novo recorde.
Jesse Owens recebe a medalha de ouro seguido de um japonês e do alemão Lutz Long.

 Hitler não queria perder nenhuma prova – movido pelo entusiasmo, ele teria permanecido no estádio mesmo diante de eventuais assédios de fotógrafos e jornalistas. Quando a primeira medalha de ouro foi conquistada por um atleta alemão, o arremessador Hans Wölke, Hitler foi cumprimentá-lo imediatamente, e na mesma ocasião congratulou-se com mais três fundistas filandeses e duas atletas alemãs. Só que o Presidente do Comitê Olímpico resolveu intervir, explicando a Hitler que ele, na qualidade de convidado de honra, deveria ou cumprimentar todos os atletas vencedores ou não felicitar mais nenhum. Pois a correria e a confusão que isto estava provocando, com centenas de fotógrafos, cinegrafistas, repórteres, seguranças e público que procuravam aproximar-se dele, estavam atrasando o andamento normal dos jogos. 
 Como não podia estar presente a todos os momentos em que os campeões eram premiados, Hitler optou então por não descer mais da tribuna de honra. Quando Jesse Owens estava no podium recebendo as medalhas, Hitler já tinha tomado essa decisão. E, de acordo com o próprio Owens, Hitler teria acenado para ele, lá de cima: “Quando eu passei, o Chanceler se ergueu, e acenou com a mão para mim: Eu respondi ao aceno…
  Segundo o livro de Hitler Mein Kampf (Minha luta), a ideologia nazista pregava a virilidade, os exercícios físicos regulares, e o bem-estar do corpo – quem cultivava esses valores, era muito bem-visto pelo nazismo, independentemente da raça. No caso dos negros, a posição tomada pelo Mein Kampf dá a entender que Hitler via-os como vítimas da exploração européia, sendo inclusive incomodados constantemente por missões de evangelização católica e protestante, ao passo em que, no regime nazista já instalado, a população alemã os enxergava como uma "agradável excentricidade". Em relação à participação dos judeus, o mais provável é que o regime tenha permitido por uma dessas duas razões: 1) Questão financeira, 2) Pressão internacional, ou ambas.
 Owens ainda ficou na Alemanha mais tempo do que estava programado, e fez uma turnê pelo país, sempre sendo assediado por multidões de admiradores, e caçadores de autógrafos. O próprio competidor alemão Lutz Long, derrotado (mas não humilhado, como afirmam até hoje), tornou-se seu amigo. 






Jesse Owens e Lutz Long: Nascia uma amizade. 

 Ironicamente, quem agiu com desrespeito e discriminação, foi a própria delegação norte-americana, que separou os atletas brancos dos negros, tanto na viagem até a Alemanha como também na concentração. Ao voltar para os EUA, Jesse Owens foi relegado ao esquecimento – nunca recebeu SEQUER um aperto de mão do então presidente Roosevelt, ao passo em que voltou para a vida de preconceito que levava.  Infelizmente a mídia de massa só lembra de seu nome, no período dos jogos pan-americanos e durante as olimpíadas, para continuar divulgando uma história que não tem fundamento algum. Mais tarde, Jesse Owens diria a Jeremy Schaap, autor do livro Triumph sobre os jogos olímpicos de 1936: "Não foi Hitler que me ignorou - quem o fez foi Franklin Delano Roosevelt. O presidente americano nem sequer me mandou um telegrama".
A viúva do atleta Ruth Owens, também disse: "Berlim representa muito para mim. Não estive lá quando meu marido Jesse conquistou suas quatro medalhas em 1936, porém fizemos várias viagens mais tarde àquela cidade. Tudo era maravilhoso. Os alemães eram muito agradáveis para nós. Em Berlim colocaram até o nome de Jesse numa rua. Gostaria imensamente que os Jogos Olímpicos do ano de 2000 fossem novamente em Berlim. Eu defendo esta idéia com todas as minhas forças e é realmente uma pena que Jesse não viva mais. Ele batalharia em todo o mundo pela realização dos jogos em Berlim, no ano 2000″.
Referências: Wikipédia
Triumph: The untold story of Jesse Owens and Hitler's Olympics –
Por Jeremy Schaap

Nenhum comentário:

Postar um comentário