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quinta-feira, 16 de junho de 2011

Histórias exemplares que viraram citações eruditas

 Até o final do século XX, as tradições greco-romana e judaico-cristã eram a base da formação escolar – estudava-se latim, grego e autores clássicos como Homero, Ovídio, Cícero e Virgílio.
 Como todo mundo também conhecia as principais passagens do Velho e do Novo Testamento, eram bastante comuns as referências a uma figura bíblica, ou a um personagem da mitologia. Atualmente, citações desse tipo têm o seu uso preservado, porém mais fechado em círculos acadêmicos, por isso nem todos sabem mais, por exemplo, que uma frase que pode ser interpretada de várias maneiras é chamada de “frase sibilina” por causa da linguagem cifrada e ambígua que as Sibilas (sacerdotisas de Apolo) usavam nas previsões do futuro, na mitologia grega. Apresento aqui, mais alguns exemplos de algumas expressões, que escondem atrás de si, histórias bastante curiosas.


Trabalho de Sísifo

 Um dos personagens mais corajosos e astutos da mitologia grega, Sísifo passou a perna no próprio Zeus, várias vezes. Por esta razão, foi castigado duramente assim que faleceu: O infeliz foi condenado a rolar uma gigantesca pedra até o pico de uma das montanhas mais altas do inferno. O detalhe torturante dessa situação, é que essa pedra tinha um peso calculado de tal forma, que estando a poucos metros do cume, faltavam forças a Sísifo, e a pedra rolava encosta abaixo fazendo-o começar tudo de novo, por toda a eternidade.
 Dessa forma, a expressão designa a realização de um trabalho que parece nunca ter fim – a exemplo da limpeza caseira... Que pode ser considerada um verdadeiro trabalho de Sísifo, afinal sempre quando você menos espera a casa já está toda suja de novo...


Bode Expiatório

 Na tradição bíblica, o bode fazia parte do ritual pelo qual os hebreus, expiavam suas culpas diante de Deus. Todos os anos, o sacerdote lançava sobre um bode todos os pecados do povo de Israel, e então jogava o pobre bicho no deserto, afim de que os castigos e as maldições caíssem longe dos fiéis. Por esse motivo, a expressão “bode expiatório” designa aquele inocente que leva a culpa pelo que os outros fizeram.



Cair nos braços de Morfeu

 A Expressão que significa “adormecer profundamente” nasceu de um engano mitológico: Morfeu era na verdade o deus dos sonhos em que apareciam formas humanas. O deus do sono na realidade era o seu pai, Hypnos que dormia eternamente numa caverna silenciosa cercado por canteiros de Papoulas (flor de onde se extrai o ópio). A confusão aconteceu porque o farmacêutico alemão F.W Setürmer isolou em 1803, o alcalóide ativo do ópio chamando-o de morphium, numa alusão à Morfeu. O termo foi mudado depois, para morfina, tendo a terminação padrão de outros conhecidos alcalóides, como estricninacafeína e cocaína.


Leito de Procusto

 Na mitologia grega, Procusto era um assaltante sanguinário que obrigava suas vítimas a deitar sobre um leito de ferro, do qual ninguém saía com vida: Se a vítima fosse mais curta que o leito, ela era estirada com cordas e roldanas provocando rompimento de seu corpo; já por outro lado se ultrapassasse as medidas do leito, o criminoso cortava o que sobrava!
 Teseu perseguiu Procusto e o matou, fazendo-o provar do seu próprio remédio. Neste caso, a expressão significa qualquer padrão que seja aplicado à força, sem respeito por diferenças individuais ou circunstâncias especiais.


Pomo da discórdia

 A lendária guerra de Tróia começou com uma grande festa entre os deuses no Olimpo: Éris, a deusa da discórdia, que obviamente não tinha sido convidada, resolveu acabar com a alegria reinante e lançou por sobre o muro uma linda maçã de ouro, com a inscrição “Para a mais bela”. Logo as três deusas mais poderosas – Hera, Afrodite e Atena – estavam disputando o troféu e Zeus encarregou Páris, filho do rei de Tróia para ser o juiz da questão. O príncipe deu o título a Afrodite, em troca do amor de Helena – que já era casada com o rei de Esparta. Helena fugiu com Paris para Tróia, os gregos reagiram marchando contra os troianos, e a tal maçã passou a ser conhecida como “O pomo da discórdia”, que hoje indica qualquer coisa que leve as pessoas a brigarem entre si.


Espada de Dâmocles
 Estar sob a espada de Dâmocles” significa que a qualquer momento, algo de muito ruim pode acontecer com você. Tal personagem teria vivido na corte de Siracusa no século IV antes de Cristo. Como era amigo do rei, expressava constantemente sua inveja pelas delícias proporcionadas pelo trono.
 Para demonstrar o preço que se paga pelo poder, o rei ofereceu-lhe um grande banquete deixando suspensa sobre a cabeça de Dâmocles, uma espada que pendia do teto, presa só por um fio. Com isso o invejoso entendeu a precariedade do poder real e a expressão passou a ser utilizada, para simbolizar um perigo eminente que paira sobre a vida de alguém.  



Calcanhar de Aquiles

 O nome vem do grande herói grego da guerra de Tróia – Aquiles era considerado invulnerável, porque ao nascer havia sido mergulhado pela mãe, nas águas sagradas do Styx, o rio dos deuses. Mas como ela tinha segurado o bebê pelo calcanhar, essa parte não foi tocada pela água, deixando-a desprotegida. É exatamente nesse ponto, em que Páris, filho do rei de Tróia, acertou uma flecha envenenada tornando possível a morte do herói.
 Usamos essa expressão, para indicar o ponto físico ou mental em que uma pessoa é vulnerável. Engraçado... Certa vez um comentarista de futebol, mencionou que o calcanhar de Aquiles, de Ronaldo, era o joelho... Sem dúvida uma frase anatomicamente esquisita...



Espírito de porco
 Conta a bíblia no evangelho de Mateus, que Jesus e seus discípulos, haviam se deparado com dois homens gadarenos possessos por uma legião de demônios. O messias, ao ouvir a súplica dos demônios, ordenou que eles deixassem os homens e se instalassem numa manada de porcos que estava próxima do local – a qual saiu correndo e precipitou-se despenhadeiro abaixo direto no mar, e ao presenciar o fato, os demais habitantes da localidade pediram que Jesus deixasse suas terras, na mesma hora. Hoje, a expressão “espírito de porco” designa uma pessoa de personalidade (ou espírito) perverso.

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