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quinta-feira, 23 de junho de 2011

O ilusionismo da "Economagia"


 Uma das inovações populistas trazidas pela Constituição de 1988 destinava-se a incrementar as férias dos trabalhadores brasileiros com carteira assinada – além do direito aos trinta dias de descanso remunerado, eles passaram a receber de seus patrões um terço a mais do salário. Com o passar do tempo, o que fizeram os empresários para se ajustar à despesa extra? Reduziram o salário dos novos contratados e diminuíram as contratações. Em suma, defenderam-se como podiam dentro de uma economia de mercado. Resultado: uma lei feita para beneficiar os trabalhadores acabou diminuindo o emprego e os salários. A suposta boa vontade dos constituintes brasileiros não passou de um lance típico de ilusionismo econômico, ou "economagia", como definem os economistas Carlos Eduardo Gonçalves e Bernardo Guimarães no recém-lançado e ótimo livro Economia sem Truques (editora Campus/Elsevier; 210 páginas; 47 reais). O que eleva o rendimento real dos funcionários é o aumento da produtividade, dizem os autores, e não a camaradagem de políticos. A partir de exemplos do dia-a-dia como esse, o livro Economia sem Truques explica de maneira clara e objetiva os conceitos centrais da teoria econômica moderna. Em especial, por que iniciativas bem-intencionadas nem sempre funcionam no mundo real nem tornam melhor a vida das pessoas. Abaixo seguem outros exemplos:




A SOMA NÃO É ZERO

 O escocês Adam Smith refutou, no século XVIII, a idéia de que uma nação enriquece necessariamente à custa do empobrecimento de outras. O comércio internacional é um jogo em que todos ganham. Graças à exportação de suco de laranja para a Europa, por exemplo, o Brasil pode importar vinho da França. Ganham franceses e brasileiros







O PREÇO DO PRIVILÉGIO

 Com o intuito de favorecer os estudantes, a lei da meia-entrada para espetáculos culturais, encareceu o ingresso pago normalmente por outras pessoas, e estimulou a falsificação de documentos.









A MINA SECOU

 Algumas regras são essenciais. Os moradores da Ilha de Páscoa acabaram com seu mais precioso recurso: As árvores, com as quais faziam canoas para pescar. Ficaram sem árvores, sem comida e a civilização desapareceu.









TROCANDO AS BOLAS

 Pelé tinha fama de ser um ótimo goleiro – melhor do que alguns que defenderam os times em que jogou. Por que então ele não jogava com a camisa 1? A resposta é óbvia – porque ele era melhor na linha.
Da mesma forma, pessoas, empresas e países devem produzir apenas aquilo em que são melhores. É o que defende a teoria das vantagens comparativas relativas, criada pelo inglês David Ricardo no século XIX.



EFEITO CASCATA

 Quando um jornal dinamarquês publicou uma piada considerada ofensiva a Maomé, as tensões geopolíticas se acirraram e a cotação do ouro – considerado um investimento seguro em tempos de crise – disparou. Resultado: casais de noivos, que nada têm a ver com isso, pagaram mais caro pelas alianças...






JANELA DE OPORTUNIDADE

 Impostos idiotas produzem efeitos catastróficos. Para aumentar a arrecadação, um rei inglês do século XVII instituiu um tributo proporcional ao número de janelas de cada casa. A reação dos contribuintes? Fechar as janelas com tijolos.







EMBRIAGUEZ MENTAL

 Um guru observou que, nos dias em que as pessoas mais bebiam cerveja na praia, mais sol havia. Conclusão dele: quanto maior o consumo de cerveja, melhor será o tempo. A correlação está correta (mais cerveja, mais sol), mas a causalidade, errada (na verdade, quanto mais calor, maior a venda de cerveja). Em economia, nem sempre correlações dizem algo. É preciso analisar sempre outros fatores.





O ROBÔ NÃO ROUBOU MEU EMPREGO!

 Desde a Revolução Industrial, o homem teme perder seu emprego para as máquinas. Woody Allen, numa piada, lamentou que seu pai tivesse sido substituído por um robô. E completou: "O triste é que minha mãe fez o mesmo...". O aumento da produtividade, na verdade, criou mais vagas, e com salários melhores.







Fonte: Revista Veja (Texto adaptado e resumido)

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